O Dia dos Professores

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Na última quinta-feira, dia 15 de outubro, foi o Dia dos Professores. E não sei com certeza se houve o que comemorar…

No Brasil, segundo a Wikipédia, o Dia dos Professores é comemorado no dia 15 de outubro, em alusão ao Decreto Imperial que, em 1827, tratava da criação das antigas “escolas de primeiras letras”. Esse decreto era tão inovador que se tornou referência ao tratar sobre Ensino Elementar. Entre suas determinações:

  • todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, teriam as “escolas de primeiras letras” que fossem necessárias;
  • os professores fariam jus a uma remuneração anual entre 200 e 500 mil réis, algo em torno de 14 e 23 mil reais (um salário mensal entre R$1.100,00 e R$1.900,00);
  • os professores que não tinham a instrução necessária, iriam instruir-se em curto prazo e às suas custas nas escolas das capitais;
  • as mestras não poderiam receber menos que os mestres; e
  • as meninas passariam a receber educação, mesmo que, àquela época, diferenciada.

Infelizmente, quase dois séculos depois, algumas das determinações daquele Decreto ainda não foram cumpridas… E talvez essa seja uma das razões porque a educação no país agoniza. O desânimo e o descaso estão tão grandes que procurei uma mensagem que enaltecesse a função do mestre na sociedade moderna (como determina o Decreto Federal que oficializa o feriado escolar nesse dia) e não achei.

Achei algumas charges, algumas citações famosas, várias reflexões no ZÉducando, inclusive uma sobre o âmago da questão, notícias sobre manifestações dos próprios professores em prol da educação…

Mas ainda faltava algo. Parecia que as pessoas haviam se acostumado a tratar a educação com descaso. Talvez seja verdade… Talvez acreditem naquela história do quem não sabe fazer, ensina. Talvez já faça parte do inconsciente coletivo a idéia do professor insatisfeito e ganhando pouco…

using_energy-atwater.jpgMas, como a esperança é a última que morre, encontrei uma. Não enaltece professores, na verdade, nem tem essa palavra. Mas mostra que ainda há esperanças ao contar a história de um rapaz africano que lutou contra todas as adversidades. William Kamkwamba, que aos 14 anos entrava escondido na escola porque sua família não podia pagar pelos seus estudos, construiu um moinho de vento com material de ferro-velho baseando-se no livro “Usando Energia”.

boy_harnessed_wind-kamkwamba.jpgAo facilitar o acesso a um recurso usufruído por apenas 2% da população de Malaui, o moinho de Kamkwamba virou uma atração mudando completamente a vida de seu criador: ele publicou um livro contando sua história, mantém uma página pessoal, viajou aos Estados Unidos, apareceu no The Daily Show, ganhou uma bolsa de estudos para concluir o Ensino Médio em Joanesburgo e deu uma palestra na TED (Tecnologia, Entretenimento e Design), uma organização sem fins lucrativos, cuja proposta é difundir boas idéias e promover o debate.

Vale a pena assistir à sua palestra na TEDGlobal Conference, ocorrida julho desse ano, em Oxford:


Link para o vídeo

Como bem resumiu Carlos Cardoso:

kamwakmba.jpgEle conseguiu isso sem computadores, sem internet, sem superstição, sem ódio nem raiva. Poderia ser mais um pregando caos e destruição, com seus AK47s virtuais ou não. Mas esses e seus gritos raivosos estão sempre destinados ao esquecimento.

Lembrado será William Kamkwamba, por mostrar que relevantes são os que CONSTROEM moinhos de vento, não os que os combatem.

Atualização: agradeço à brilhante colaboração de minha esposa que viu, no descaso com o Dia dos Professores, razão para um artigo.

Um comentário sobre “O Dia dos Professores

  1. Excelente post. Só poderia ter sido feito por quem tem preocupação diária com Educação. A história deste jovem Kamkwamba é comovente. Por isso me atrevi a colocá-la no ZEducando, um pouco antes do Dia dos Professores (11/out) <http://joserosafilho.wordpress.com/2009/10/11/mais-um-prodigio-nada-menos-que-monumental/>

    ZeLuis, a sua sutileza colocando a charge foi muito bacana, Dom Quixote e Sancho Pança têm tudo a ver com os Moinhos de Vento do Kamkwamba.

    Quanto ao nosso país, a coisa não mudou muito do Império para cá, infelizmente.

    abs

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