
O Caso do Hotel Venetia pode ser considerado um clássico, tal é o número de versões diferentes que circulam na internet. Dentre elas, uma das mais interessantes que encontrei é, nas palavras de seu autor, uma “versão cruel”.
Usando os mesmos elementos (um viajante, um hotel, um fósforo, uma bala de menta, um café e um jornal), o autor criou um caso com, ao que parece, todos os exemplos de mau atendimento que pôde imaginar.
É uma boa leitura. Serve, no mínimo, como parâmetro do que não deve ser feito:
Congestão do fósforo
por Daniel (danielgudang)*
Um fósforo, uma bala de menta, uma xícara de café e um jornal: estes quatro elementos fazem parte de uma das “mais piores” histórias sobre atendimento que (des)conhecemos.
Um homem ranzinza e mal humorado estava dirigindo há horas e, cansado da estrada esburacada, resolveu procurar um hotel ou uma pousada para descansar. Ainda teve que dirigir muito, pois evitava voltar à rodovia pedagiada, tão mesquinho que era, e naquela estrada local não se desenvolvia comércio algum.
Enfim avistou um letreiro luminoso com um nome embaçado: “Hotel Venetia”. Não agüentando mais de cansaço, resolveu parar ali mesmo.
Quando chegou à recepção, o “hall” do hotel estava pouco iluminado por causa da fraca luz amarela da única lâmpada. Atrás do balcão, uma moça de rosto sofrido e sonolento o saudou desanimada:
— Vai querer um quarto? Com ou sem “serviço”?
O homem ponderou se valia à pena gastar uma grana com alguma acompanhante nessa altura do campeonato. Não trazia consigo nenhum estimulante, e nem estava assim tão disposto… Resolveu optar então pelo quarto mais simples, com banheiro coletivo (mais barato!), e sem televisão.
Três minutos após acertar o pagamento adiantado, sem direito a devolução, o hóspede já se encontrava subindo as escadas para o segundo pavimento, depois atravessando escuro corredor de paredes mal pintadas, e enfim se instalando no seu minúsculo quarto.
Ele não era apegado a grandes luxos, porém estava impressionado com o local. Não havia mesa nem cadeira no quarto, apenas um velho colchão sobre um estrado ruidoso; lençol e cobertor (trapo empoeirado) estavam na cabeceira. Era suficiente…
Aquele homem que queria um quarto apenas para passar a noite, se lembrou de que não havia feito nenhuma refeição à noite. Pensou em descer e perguntar sobre a cozinha, mas desistiu, preocupado mais com o valor de um prato feito a essas horas da madrugada do que com a higiene e cardápio do local. Resolveu dormir assim mesmo, de barriga vazia.
Ao tirar o sapato e guardá-lo embaixo da cama, avistou um pequeno volume, e pensou consigo, “puxa estou com sorte!”. Era uma bala de menta que alguém havia deixado ali caída já não se sabe faz quanto tempo, pois apesar de úmida e com o papel todo grudado, ainda tinha sabor doce e refrescante.
Pouco antes de o sol nascer, acordou assustado com gritos que vinham de um outro quarto. Aparentemente alguém contratara os serviços locais e estava se divertindo um bocado.
Resolveu levantar e ir ao banheiro. Era caso de “opção nº 2, com urgência”. Sentou-se e fez o que tinha que fazer, mas não reparou que papel não havia ali, apenas jornal velho, para desgosto da sua suave e macia pele.
Desobrigou-se de tomar banho quando ao abrir a torneira uma aranha pulou lá de cima do chuveiro, aparentemente com cara de poucos amigos e nada contente de ter sua teia toda inundada. Lavou o rosto na água fria e sulfurosa e, de volta ao quarto, já mais desperto, reparou que estava com uma estranha marca no rosto. Era uma linha de aproximadamente quatro centímetros na bochecha esquerda em direção à orelha, não muito funda, mas bastante vermelha e dolorida.
Olhou de volta à cama e descobriu que havia um velho fósforo junto ao travesseiro sobre o qual ele apoiara a pesada cabeça. “Mas, fazer o quê?” Resmungou, bateu os grilos do sapato antes de calçá-los, e saiu sem se preocupar com arrumar a cama.
Não havia café da manhã, isso era esperado. Apenas café requentado, do qual tomou apenas meia dose.
Sem se despedir, deixou o desencantado hotel, e continuou sua rota pelas estradas paralelas, de volta a sua morada infeliz, aos filhos e esposa negligentes, ao tedioso trabalho quotidiano.
O caro leitor se pergunta então: que má sorte (ou azar) teve esse homem de ter achado um “hotel” assim tão precário e ruim? Oras, poderia ter sido bem pior! Ele poderia ter dormido ao volante e sofrido algum acidente. Poderia ter simplesmente parado o carro à beira da estrada, mas então o “conforto” seria ainda menor, sem falar na falta de segurança.
A lição que disto se tira é de que, por pior que a situação pareça, por pior do que seja o nosso estado de ânimo, a vida continua, mesmo que um novo dia tenha que começar com uma porcaria de café amargo e um pneu furado…
Fonte: Fábula “Gestão do fósforo”, e minha ótima versão “Congestão do fósforo” no D.C. Portal do Infinito.
Achei essa versão, mesmo muito pessimista, infelizmente tão provável quanto a original…
E você, o que acha?
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Achei essa versão mais engraçada e comprida. Mas ainda prefiro a do Luiz Marins que publiquei no ZEducando em 19 de janeiro do ano passado:
http://joserosafilho.wordpress.com/2009/01/19/um-fosforo-uma-bala-de-menta-uma-xicara-de-cafe-e-um-jornal/
Zé, aí é que está: como eu disse no artigo O Caso do Hotel Venetia, o texto que você publicou é atribuído a Luiz Marins por engano.
Ele realmente escreveu um texto na linha do original, mas o texto que ele escreveu é outro, que apresentei no artigo Seja diferente, agrade o cliente!.
No fim das contas, o que importa é o conteúdo. Mas, como você costuma frisar, o problema da autoria é quase onipresente!