Efêmeros ídolos eternos

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Os seres humanos são vaidosos. Talvez porque, no passado, precisassem se destacar para passar adiante seus genes, não sei. O fato é que a maioria dos seres humanos gosta de se exibir.

Quando eu era pequeno, criticávamos as pessoas que gostavam de contar vantagem dizendo que elas tinham necessidade de atenção. Hoje, isso parece ter se generalizado: as pessoas querem se destacar por alguma coisa, qualquer coisa, mesmo que seja de forma negativa.

Antigamente, as pessoas destacavam-se por seus próprios méritos. Podia ser um dom, como o de Elis Regina, um talento desenvolvido com dedicação, caso de Ayrton Senna, ou um feito obtido pelo conhecimento, como aconteceu com Santos Dumont (para mencionar apenas pessoas falecidas).

Hoje, tantas pessoas foram alçadas à condição de celebridades que o termo parece estar perdendo o significado. E elas se destacam por razões tão prosaicas quanto posar para uma foto sem roupa de baixo, ter uma parte da anatomia em formato de fruta, ou fazer um curso no exterior(!).

Em 1968, o catálogo de uma exibição no museu de arte moderna de Estocolmo trazia uma frase que nem seu autor, Andy Warhol, desconfiava que seria tão profética:

No futuro, todo mundo será mundialmente famoso por 15 minutos.
(Andy Warhol)

O curioso dessa frase é que ela parece explicar:

  • a banalidade das razões que levam à fama (méritos reais não permitiriam que todos fossem famosos);
  • a carência das pessoas por atenção (se todos serão famosos, tenho que ter a minha vez!); e
  • a volatilidade dessa fama (para que todos tenham sua oportunidade, a fama deve ser breve).

Estava em casa conversando sobre isso quando mencionaram uma banda de/para adolescentes que supostamente deveria durar para sempre, mas sumiu. Nesse ponto, eu lembrei de uma música dos Titãs:

A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana

Por Branco Mello e Sérgio Britto (Titãs)

Quinze minutos de fama
Mais um pros comerciais,
Quinze minutos de fama
Depois descanse em paz.

O gênio da última hora
É o idiota do ano seguinte.
O último novo-rico,
É o mais novo pedinte.

A melhor banda de todos os tempos da última semana.
O melhor disco brasileiro de música americana.
O melhor disco dos últimos anos de sucessos do passado.
O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores fracassos.

Não importa contradição,
O que importa é televisão.
Dizem que não há nada que você não se acostume.
Cala a boca e aumenta o volume, então.

As músicas mais pedidas,
Os discos que vendem mais,
As novidades antigas,
Nas páginas do jornais.

Um idiota em inglês,
Se é um idiota, é bem menos que nós.
Um idiota em inglês
É bem melhor do que eu e vocês.

A melhor banda de todos os tempos da última semana.
O melhor disco brasileiro de música americana.
O melhor disco dos últimos anos de sucessos do passado.
O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores fracassos.

Não importa contradição,
O que importa é televisão.
Dizem que não há nada que você não se acostume.
Cala a boca e aumenta o volume, então.

Os bons meninos de hoje
Eram os rebeldes da outra estação.
O ilustre desconhecido
É o novo ídolo do próximo verão.

A melhor banda de todos os tempos da última semana.
O melhor disco brasileiro de música americana.
O melhor disco dos últimos anos de sucessos do passado.
O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores fracassos.

Concordo com a Wikipédia:

Nessa música a banda relata algumas coisas que a mídia acaba por gerar, e fala dos famosos 15 minutos de fama, algo como se antecipasse toda a geração Big Brother futura.

Apesar de gravada em 2001, essa música parece antecipar a “geração Big Brother” e as dezenas de “celebridades” que surgiram (e, na maioria dos casos, sumiram) nos últimos anos.

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