
Continuando a reflexão proposta no começo do mês (e a sequência de textos de antigos livros didáticos de Língua Portuguesa), trago uma clássica fábula, recontada por Monteiro Lobato.
Esta é uma das fábulas de Esopo, escritor grego que viveu no século VI A.C. e teve um conjunto de textos reunidos e atribuídos a ele por Demétrius, em 325 A.C.
Desde então, as fábulas tornaram-se clássicos da cultura ocidental e tiveram centenas de versões, devidamente atualizadas, demonstrando a universalidade das lições neles contidas:
O Lobo e o Cordeiro
Recontada por Monteiro Lobato*
Em Fábulas, Monteiro Lobato, São Paulo, Ed. Brasiliense, 1966, 20ª edição.Estava o cordeiro a beber num córrego, quando apareceu um lobo esfaimado , de horrendo aspecto.
— Que desaforo é esse de turvar a água que venho beber? — disse o monstro arreganhando os dentes. Espere, que vou castigar tamanha má-criação!…
O cordeirinho, trêmulo de medo,respondeu com inocência:
— Como posso turvar a água que o senhor vai beber se ela corre do senhor para mim?
Era verdade aquilo e o lobo atrapalhou-se com a resposta. Mas não deu o rabo a torcer.
— Além disso — inventou ele — sei que você andou falando mal de mim o ano passado.
— Como poderia falar mal do senhor o ano passado, se nasci este ano?
Novamente confundido pela voz da inocência, o lobo insistiu:
— Se não foi você, foi seu irmão mais velho, o que dá no mesmo.
— Como poderia ser meu irmão mais velho, se sou filho único?
O lobo furioso, vendo que com razões claras não vencia o pobrezinho, veio com uma razão de lobo faminto:
— Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô!
E — nhoc! — sangrou-o no pescoço.
* José Bento Monteiro Lobato (Taubaté/SP, 1882 – 1948). Escritor, contista; dedicou-se à literatura infantil. Foi um dos fundadores da Companhia Editora Nacional.
Infelizmente, muitas pessoas costumam agir desta maneira. A famosa frase “os fins justificam os meios” é o lema delas. Esse princípio é uma das razões porque o mundo vive em eterno conflito.
As ditaduras, os grandes tiranos da humanidade, as perseguições religiosas, os roubos e os assassinatos sempre estão acompanhados por argumentos ou um motivo “nobre” que tentam avalizar tantas barbaridades.
A cada dia fico mais convencido de que precisamos urgentemente resgatar a tradição de contar fábulas aos jovens, ao invés de simplesmente deixá-los aos cuidados de babás televisivas ou navegando na internet…
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Muito boa a fábula. O Professor Saulo Dourado, de Salvador-BA, escreve boas fábulas no jornal A TARDE. Exemplo: https://joserosafilho.wordpress.com/2017/09/02/elefante-bonzinho-e-tartaruga-esperta/